Copom aumenta Selic pela primeira vez no governo Lula e taxa vai a 10,75%

  • 18/09/2024
Expectativa dos analistas é de que esta seja a primeira alta de uma sequência que deve ir até o começo de 2025. Objetivo é conter alta nas expectativas de inflação. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou nesta quarta-feira (18) a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. A Selic — a taxa básica de juros da economia — subiu para 10,75%. É o primeiro aumento de juros desde agosto de 2022 e o primeiro deste mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Copom justificou que vem percebendo, no cenário interno, risco para alta da inflação. "Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes", afirmou o Copom em comunicado. O Copom também disse que o aumento da Selic desta quarta inicia um "ciclo". "O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos", completou. Após a decisão do Copom, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não se surpreendeu com a subida dos juros. A expectativa do mercado é de que a taxa continue subindo até atingir 11,50% ao ano em janeiro — com um crescimento de 1 ponto percentual ao todo. Os analistas também estimam que, a partir de julho do ano que vem, a taxa começará a recuar, terminando 2025 em 10,50% ao ano. Selic em alta deve aumentar juros no mercado de crédito e encarecer o consumo; entenda Com alta da Selic, Brasil sobe para 2º no ranking de maiores juros reais do mundo; veja lista Indicação de novo presidente O aumento de juros acontece após a indicação do economista Gabriel Galípolo, atualmente diretor de Política Monetária da instituição, para o comando do BC a partir de 2025. Ele ainda terá de ser sabatinado e aprovado pelo Senado para poder tomar posse. Lula desaprova o patamar alto dos juros reais brasileiros na comparação com o resto do mundo, alegando que eles freiam o crescimento da economia. O presidente já fez várias críticas ao atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, indicado por Bolsonaro, que fica até o fim deste ano no cargo. Com a autonomia da instituição aprovada, os diretores e presidente do BC têm mandato fixo. Desse modo, não podem mais ser demitidos pelo presidente da República. "Um presidente do Banco Central [Campos Neto] que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está", afirmou Lula em julho, após os maiores bancos do país projetarem interrupção do processo de corte dos juros Em agosto, porém, o presidente da República afirmou que não tem problema Galípolo, indicado por ele posteriormente para a Presidência do BC, falar em aumento dos juros — pois ele seria uma pessoa "competentíssima", um "brasileiro que gosta do Brasil". 'Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima', diz Lula sobre Gabriel Galípolo Deflação em agosto e sistema de metas O mercado acredita que o BC deve subir os juros nesta semana apesar de a inflação oficial do país, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ter caído, ou seja, terem registrado uma deflação, de 0,02% em agosto. Pelo sistema de metas, que serve de referência para a atuação do BC, entretanto, o Copom deve nivelar a taxa de juros para atingir as metas fixadas para os próximos anos, e não tendo por base a inflação passada. A meta central de inflação é de 3% neste ano, e será considerada formalmente cumprida se o índice oscilar entre 1,5% e 4,5% neste ano. A partir de 2025, e a meta passou a ser contínua em 3%, podendo oscilar entre 1,5% e 4,5% sem que seja descumprida (sempre considerando o cenário em 12 meses). As decisões sobre a taxa de juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia. Com isso, o BC já está mirando, neste momento, na inflação, no acumulado de doze meses, até março de 2026. E as projeções do BC e do mercado estão, no jargão técnico, "desancoradas" das metas de inflação fixadas para o futuro, e subindo. Na semana passada, os analistas dos bancos estimaram um IPCA de 4,35% para 2024, de 3,95% para 2025 e de 3,61% para 2026 — acima do objetivo central de 3%, mas dentro do limite de até 4,5%. No fim de junho, o Banco Central projetou uma inflação de 4,2% para 2024, de 3,6% para 2025 e de 3,2% para 2026, também acima da meta central e dentro do intervalo de tolerância. "O Copom volta a se reunir em setembro após semanas de intensa volatilidade e com fundamentos que justificam o início de um ciclo de alta de juros.", informou o Itaú, em comunicado. A instituição projeta um aumento de 1,5 ponto percentual nos juros nos próximos meses. Para o Itaú, os fatores que pressionam a inflação e justificam alta dos juros são: o real seguiu pressionado, ou seja, o dólar continuou alto, próximo das máximas recentes; as contínuas incertezas sobre os rumos das contas públicas, com dificuldades do governo em equilibrar suas contas; os dados mais recentes de atividade indicam que a economia se encontra mais aquecida do que o BC esperava na última reunião; as expectativas de inflação seguem desancoradas (acima das metas fixadas). O BC defende que sua atuação é técnica, com o objetivo de conter o crescimento da inflação. Para a instituição, a alta nos preços causa prejuízos, principalmente, à população mais pobre, abocanhando proporcionalmente uma parte maior de sua renda, além de desorganizar a economia e de prejudicar o planejamento das empresas. "O custo de combater a inflação é muito alto para a sociedade, e tem impactos duros no curto prazo. Mas o custo de não combater é muito mais alto e tem impactos muito mais nocivos a médio e longo prazo. Então, nosso trabalho é fazer essa convergência [para as metas de inflação] com o mínimo custo possível [em termos de impacto na atividade]" , afirmou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, no ano passado.

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2024/09/18/copom-aumenta-selic-pela-primeira-vez-no-governo-lula-e-taxa-vai-a-1075percent.ghtml


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